Saúde Mental da Mulher Preta
Quando ligamos a TV para assistir uma série norte-americana, as mulheres negras são representas como barulhentas, escandalosas ou até mesmo causadoras de brigas.
Na novela das 21h a mulher negra muitas vezes é trazida como a doméstica, sem estudos e com poucas possibilidades de desenvolvimento pessoal ou profissional.
Por anos o cabelo cacheado ou crespo e transas (box braids) foram motivos para chacota e sinônimo de bagunça ou falta de trato, traços esses que são diretamente relacionados a pessoas negras assim como o nariz e boca larga, por diversas vezes, já foram e são motivo de piadas nas escolas, ambiente de trabalho, televisão, campos de futebol, festas, etc. E por séculos tudo que fosse relacionado ao negro era motivo de zombaria, ou automática rejeição.
E a mulher negra é colocada nesse contexto social que é predominantemente patriarcal e coberto por racismos estruturais, como um dos sinônimos de inferioridade e falta de dignidade: E por muitas vezes nós mulheres negras aceitamos esse local que retira as nossas possibilidades, inferioriza e até mesmo nos sexualiza, anulando as nossas singularidades como pessoas.
O preconceito naturalizado, já fez e faz com que muitas mulheres negras não se enxerguem em um lugar diferente do imposto a elas, levando a tona o sentimento de inferioridade nos mais variados âmbitos de sua vida, sejam eles sociais, econômicos, corporativos e até mesmo amorosos, deixando muitas mulheres sem perspectiva do que elas são e como elas podem agregar para a sociedade na qual elas vivem, pois a mesma sociedade que grita “SE AMEM COMO VOCÊS SÃO!” é a primeira a apontar seus traços pessoais e individuais antes mesmo de conhece-la como individuo, ou suas qualificações profissionais, retirando até mesmo o seu direito de amar e ser amada.
Por vezes muitas mulheres negras também tentam se enquadrar em padrões estéticos na tentativa de apagar ou minimizar seus traços afros, para serem aceitas por determinados grupos, sejam eles corporativos, acadêmicos ou sociais, podendo assim também se frustrar por não se encaixar o suficiente no que é prescrito como “ideal” e por mais uma vez gerando frustrações. O racismo realizado contra mulheres negras muitas das vezes é concebido desde a infância e/ou adolescência, que é quando muitas mulheres são incentivadas e motivadas a esconder seus cabelos volumosos e “difíceis de cuidar”, fazendo com que muitas mulheres dessas entrem em um estado depreciativo sem autoestima e sem a autovalorização, a tentativa da mulher negra de se encaixar na sociedade por diversas vezes é regida pelo sentimento de frustração, gerada pela própria associação na qual ela tenta se encaixar.
A abundância de comoções vividas pela mulher negra pode ser responsável pelo desenvolvimento de psicopatologias como estresse, ansiedade, depressão, psicoses entre outras, podendo afetar diretamente a qualidade de vida da mesma e também o seu desenvolvimento psicossocial, trazendo danos que se perpetuam por longos períodos e que em sua maioria não são identificados pelas próprias, sendo assim os mesmos acabam sendo naturalizados.
No setting terapêutico, é de suma importância que seja feita a identificação do racismo estrutural sofrido pela paciente, trazendo manejos nos quais a mesma consiga identificar as situações do seu dia a dia na qual há a naturalização de situações, ou coisas que lhe causam sofrimento, sejam eles psíquicos e possivelmente físicos. Após identificação também é importante tratar da reintegração de autoestima podendo também ser apresentadas imagens e objetos que tragam representatividade para essa mulher.
Os casos de racismos estruturais sofridos por pessoas negras e pretas ainda acontecem atualmente, e é imprescindível que possamos identificar essas situações no nosso cotidiano e em nossos pacientes.
Texto da Colunista e Psicóloga Dayane Martins